A emocionante História dos Rabudos e Cauaçus na Região de Catingal


 

Charles Meira, bisneto de Zezinho dos Laços no local da emboscada

 

Por Charles Meira
Versão de Osmar Marques da Silva e Laura Angélica da Silva, netos de José Marques da Silva (Zezinho dos Laços), para os fatos que aconteceram antes e depois da sua morte.
No ano de 1911, os “rabudos” (nome dado aos seguidores da família de José Marques da Silva) e os “cauaçus” (nome dado aos seguidores de José Cauaçu), viviam em harmonia, mesmo sendo adversários políticos, no arraial de Porto Alegre, situado a 66 Km de Maracás.
         A paz entre as famílias durou até um determinado dia, quando jagunços e populares bebiam numa venda da localidade. Próximo dali, vinha um jagunço de Zezinho dos Laços montado em uma mula, quando repentinamente surgiu uma porca que ao atravessar a rua, foi atropelada pelo seu animal. A porca morreu e, por estar na hora de dar cria, os filhotes tiveram o mesmo fim. O fato causou um grande desentendimento entre o dono da porca, o qual pertencia à família dos “cauaçus” e queria receber a indenização pela perda do suíno, e o jagunço, que não aceitou os argumentos apresentados. Depois de muita conversa e interferência dos amigos  das  partes, os  ânimos   foram  acalmados, mas ficaram as promessas de vingança.
         No outro dia, quando o jagunço de Zezinho dos Laços foi pegar a mula no mangueiro, encontrou-a morta. Sinais de perfuração de bala foram verificados na região da cabeça. O jagunço não fez nenhum comentário, apenas retirou as quatro ferraduras da mula e colocou na capanga. Três dias após o ocorrido, o proprietário da porca foi encontrado morto com as quatro ferraduras no pescoço.
          A partir deste dia começou a desavença entre os “rabudos” e os “cauaçus”, devido a estes entenderem que o mandante do crime teria sido Zezinho dos Laços, mesmo ele tendo afirmado não ter participação no assassinato.  Declarações da família dos “cauaçus” eram de que vingaria a morte do seu familiar e o alvo era o suposto mandante, José Marque da Silva.
          Não acreditando e não temendo as ameaças, Zezinho dos Laços viajou para Volta dos Meiras (atualmente Catingal), em companhia de Lucas e de um dos seus capangas, para resolver assuntos pessoais. Em Volta dos Meiras, ele foi avisado pelo seu compadre Dozinho de que seria emboscado. Zezinho dos Laços respondeu que “moleque não mata homem”.
No mesmo dia, quando retornavam para Porto Alegre, por volta de 5h da tarde, próximo da fazenda “Rochedo”, de propriedade de Cândido Alves, depois de atravessar em um riacho ali existente e subir uma ladeira, aconteceu a emboscada.
Os  tiros disparados foram direcionados unicamente para Zezinho dos Laços. O Chefe dos “rabudos” foi alvejado com vários tiros de repetição 44 papo amarelo, e o seu animal assustado, bateu em retirada. Não houve reação da parte dos amigos de Zezinho dos Laços, pois eles não acreditavam que seriam emboscados, e em conseqüência disso as suas armas estavam nos arreios das mulas. A alternativa deles naquele momento foi fugir para Catingal. Zezinho dos Laços foi socorrido por Cândido Alves e seu filho Elpídio, que ficaram sabendo do ocorrido porque a mula preta de Zezinho dos Laços foi parar na fazenda “Rochedo” sem o seu dono.
Os autores dos disparos perseguiram os amigos de Zezinho dos Laços até a fazenda “Rochedo” e montaram um cerco no local. Somente foram embora depois da meia-noite, quando ouviram o santo ofício entoado pelos familiares que anunciava a morte de José Marques da Silva. Depois de se certificarem de que os jagunços haviam saído, Elpídio Alves foi a Porto Alegre avisar aos parentes. Ficaram na fazenda velando Zezinho dos Laços: Cândido Alves,  sua esposa Joana Alves Meira e suas  filhas Florinda Meira, Leonilha Meira. Rita Meira e Ana Meira. No dia seguinte, Zezinho dos Laços foi levado e sepultado em Porto Alegre.
         Imediatamente depois da sua morte e enterro,  começaram as investidas dos “rabudos” para vingarem Zezinho dos Laços. Com apoio da polícia e ajuda de Marcionílio Antônio de Souza, influente chefe político em Maracás, Cassiano Marques da Silva e seus sobrinhos Rodolfino Marques da Silva e Randulfo Marques da Silva passaram a perseguir o mandante e todos os envolvidos no assassinato.
Dias depois foi morto nos arredores de Porto Alegre na fazenda “Fedegoso” onde estava escondido, Manoel Cauaçu, que no momento do cerco dos “rabudos” e policiais estava saindo da casa com um jornal, quando foi surpreendido com os disparos feitos pelos adversários.
         O seu irmão José Cauaçu, o mandante do crime, não foi encontrado, porque tinha fugido com seus familiares. Tomando conhecimento da fuga, Cassiano e sobrinhos, designaram dois jagunços com a missão de matar o chefe dos “cauaçus” e trazer a prova do crime.
          Depois de várias investigações feitas em fazendas, eles foram informados de que havia passado uma família com destino a Bom Jesus da Lapa. Na região próximo ao destino da família, foi montada uma emboscada pelos dois jagunços de Zezinho dos Laços, que conheciam bastante José Cauaçu. No final da caravana vinha o chefe dos “çauaçus” e no cabeçote da sela sua filha caçula. No tiroteio ele foi alvejado por vários tiros que somente a ele atingiram, nada acontecendo a sua filha. Como prova do assassinato, os jagunços deceparam as duas orelhas de José Cauaçu para entregar aos familiares de Zezinho dos Laços.
          Não satisfeitos com a morte de José Cauaçu e seu irmão, os familiares de Zezinho dos Laços passaram a perseguir todos os envolvidos na morte do seu chefe. Muitos jagunços dos “cauaçus” e familiares foram mortos e outros levados presos para Boa Nova.
             É importante salientar que da família dos “rabudos”, apenas morreu Zezinho dos Laços.
         Outro detalhe importante, contado por Osmar Marques da Silva, neto de Zezinho dos Laços, ocorreu no ano de 1939, quando depois do casamento de Laura Angélica da Silva sua irmã em Caldeirão de Miranda, ele e seu pai foram levá-la a Itagi e ali sua irmã sentiu-se mal e foi socorrida por uma pessoa que mais tarde seu pai, Randulfo Marques da Silva, filho de Zezinho dos Laços, lhe apresentou como sendo a filha de José Cauaçu, aquela mesma que estava no cabeçote da  sela do animal no dia em que ele foi morto. A idade dela na época era de aproximadamente 25 anos.
* Texto editado na Revista Cotoxó de agosto de 2013.

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