Dilma x Evangélicos: Promessas quebradas e conflito crescente


Presidente eleita com apoio de lideranças evangélicas não dá sinais que pretende honrar promessas de campanha:
Não mandar ao Congresso ou sancionar qualquer legislação que impacte a
religião, como legalização do aborto e casamento homossexual.
 Tratar o aborto como questão de saúde pública, atendendo às mulheres que tenham abortado e enfrentem risco de morrer.
 Sancionar o projeto de lei complementar 122 (que criminaliza a
homofobia) apenas nos artigos que não violem a liberdade de crença, de
culto e de expressão e as demais garantias constitucionais individuais.
 Fazer da família o foco principal de seu governo.
 Não promover iniciativas que afrontem a família.
 Fazer leis e programas que tenham a família como foco.
 Defender a convivência entre as diferentes religiões.
 Manter diálogo com as igrejas.
Para quem não lembra, essas são algumas promessas que a presidente Dilma
Rousseff fez ao longo da campanha eleitoral em 2010. Elas estão
relacionadas ao tema “Família e Religião”.
De modo geral, muitas das promessas de campanha ficaram esquecidas e
algumas já foram parcialmente cumpridas. Mas com o lançamento dos
candidatos que irão concorrer a cargos eletivos este ano, parece que os
evangélicos foram envolvidos em vários compromissos que não estão sendo
honrados pela presidente nem pelos seus aliados políticos.
Isso tem causado mal estar de maneira especial entre os políticos
evangélicos de todo o país. O motivo é claro, as contradições são muito
grandes para quem dizia há menos de dois anos atrás que manteria o
diálogo com as igrejas.
O primeiro grande embate foi o chamado “kit gay”, material que seria
distribuído em escolas de todo o país para combater o preconceito contra
os homossexuais. A proposta era  de Fernando Haddad, ex-ministro da
Educação e hoje pré-candidato do PT à prefeitura de São Paulo.
Magno Malta, líder do PR no Senado já anunciou que vai mobilizar os
evangélicos para derrotar Fernando Haddad. “Nós [religiosos] vamos
derrotar o Haddad e qualquer um que acredite em ‘kit gay’ e aborto”,
disse Malta, um dos expoentes da bancada evangélica.
Parte da motivação de Magno Malta é a fala do ministro Gilberto Carvalho
(Secretario-Geral da Presidência) durante o Fórum Social realizado em
Porto Alegre.
Na ocasião, foi divulgado que Carvalho pretende unir o PT e outros
partidos  em uma batalha ideológica contra evangélicos pelo “domínio”
das classes C e D.
Em seu discurso, ele lembrou “Estive na campanha do ex-presidente Lula
buscando apoio do povo evangélico. E também, com a presidenta Dilma, em
intensa maratona, viajei por todo o Brasil reunindo expressivas
lideranças religiosas. Apoio decisivo e importante para a Vitória no
segundo turno”.
Ao mesmo tempo, ressurgiu o debate sobre o aborto, um dos temas que
pautou parte da   disputa de 2010 entre Dilma Rousseff e José Serra.
O motivo é a nomeação de Eleonora Menicucci para ser ministra da
Secretaria de Políticas para as Mulheres. Menicucci é conhecida por
defender a legalização do aborto. Numa de suas primeiras entrevistas
como ministra, ela reafirmou sua posição e chamou o aborto de “problema
de saúde pública”, comparando-o ao combate à dengue e às drogas.
Vários políticos ligados às alas evangélicas e católicas se manifestaram e chegaram a pedir que ela não fosse empossada.
A ministra voltou atrás no dia seguinte, mas o deputado Pastor Marco
Feliciano (PSC-SP) foi para a plenária cobrar publicamente a quebra das
promessas de campanha de Dilma.
Silas Malafaia, que apoiou Serra na eleição, escreveu no Twitter: “O PT
está dando um tiro no pé atacando os evangélicos. Eles vão se ferrar”.
Malafaia tem se manifestado para protestar contra o Projeto de Lei 122,
desarquivado no Senado, em fevereiro de 2011, pela senadora Marta
Suplicy, do PT, com a assinatura de 27 senadores.
O PL 122 criminaliza qualquer ação, opinião ou crítica que venha a ser
interpretada como discriminação ou preconceito quanto ao homossexualismo
no Brasil, com pena de 2 a 4 anos de prisão.
Em suma, as questões principais que afligiram os evangélicos durante as
últimas eleições e que, inclusive, causaram divisões, uma vez que as
principais denominações  escolheram um lado ou outro em 2010, continuam
preocupando.
Dilma prometeu “Fazer leis e programas que tenham a família como foco” e
“Não promover iniciativas que afrontem a família”. Parece que seus
ministros ou não sabem disso ou já esqueceram as promessas de campanha. A
frequência com que os conflitos entre evangélicos e o governo atual tem
entrado em rota de colisão indica que o assunto está longe de terminar e
provavelmente não será pacífico nas discussões das eleições deste ano.
Segundo a Frente Parlamentar Evangélica, nas eleições de 2010, a bancada
cresceu de 46 deputados (9% do total) para 68 deputados (13,2%). Isso
significa um aumento de mais de 50% de uma eleição para a outra. No
Senado, dos 81 senadores, apenas 3 se declaram evangélicos: Walter
Pinheiro (PT-BA), Magno Malta (PR-ES) e Marcelo Crivella (PR-RJ).
Embora não sejam todos do mesmo partido, se fossem reunidos em um só,
seria o terceiro maior do Congresso. Ficariam atrás de PT e PMDB, e
empatados com o número de parlamentares do PSDB.

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