Licença para matar: a torcida pela morte de Bolsonaro e a ética sem transcendência


No dia em que Jair Bolsonaro testou positivo para covid-19, Hélio Schwartsman, colunista da Folha de S. Paulo, “explicou” em artigo por que torce pela morte do presidente: na cabeça dele, o presidente da República, com sua morte, promoveria um bem maior do que pode promover em vida, e esse raciocínio seria supostamente justificado pelo que chama de “ética consequencialista”.

A sensibilidade humana espanta-se com uma declaração de tamanha estupidez. Embora se vejam, especialmente nas redes sociais, clamores e celebrações pela morte de representantes de diferentes espectros políticos, às pessoas de caráter causa asco que se possa desejar o falecimento de alguém, notadamente quando se trata de meras disputas ou preferências político-ideológicas.

Nesses momentos, a pecaminosidade universal grita de seus subterrâneos, para que lembremos que ela existe e é muito feia.

Mas, independentemente das (muitas) questões políticas envolvidas, o que me chamou a atenção no texto de Hélio Schwartsman foi uma pretensa justificativa filosófica, ao categorizar sua fúria presidenticida como corolário de uma “ética consequencialista”, cujo critério de validação seriam os resultados.

Dito de outro modo, o que o referido jornalista entende por ética não é aquilo que está certo, mas, sim, aquilo que, em sua concepção, dá certo. Ora, existe um nome menos bonito para isso: “utilitarismo”.

Se pensarmos bem, e sem nenhum exagero ou apelação retórica, foi uma ética consequencialista desse tipo que conduziu Adolf Hitler em sua Solução Final contra os judeus na Alemanha Nazista, com seus nojentos campos de extermínio; foi uma ética consequencialista desse tipo que orientou as investidas de Benino Mussolini contra povos no norte da África; foi uma ética consequencialista desse tipo que orientou o regime comunista de Josef Stálin a matar milhões e milhões de pessoas, como os ucranianos mortos de fome no horrendo “Holodomor”; foi uma ética consequencialista desse tipo que orientou os expurgos, as execuções sumárias, os sequestros, os atentados, as torturas e toda sorte de perversidade praticada por grupos terroristas islâmicos, guerrilheiros comunistas, ditaduras latino-americanas e regimes totalitários ao redor do mundo.

Em todas essas situações, a morte de centenas, milhares ou milhões de pessoas foi supostamente “justificada” como necessária para a promoção de algo considerado um “bem maior”: a recuperação da dignidade alemã pós-Tratado de Versalhes, a restauração da glória de Roma, a sociedade sem classes, a derrubada de ditaduras militares, o combate ao imperialismo, a resposta a subversivos comunistas, a propagação da fé muçulmana…

Com efeito, as piores atrocidades cometidas na história ostentam a marca da bondade autodeclarada e das virtudes superiores, e a Revolução Francesa, no período do Terror, ilustra muito bem a intensidade do pecado humano quando posto a serviço “do bem”.

É também uma ética consequencialista desse tipo que busca “legitimar” aborto, eutanásia, infanticídio indígena, por se superestimarem os resultados práticos, sejam eles sociais, econômicos ou culturais, em detrimento do valor moral da ação.

O cerne desta reflexão é a seguinte: o caso Hélio Schwartsman, em razão do seu “sincericídio”, contribui para mostrar o que acontecerá com a ética se ela se desprender da transcendência – enfim, se ela, desprendendo-se de Deus e de Sua Palavra, trilhar o caminho da validação por critérios como resultado, consenso, ciência, justiça social.

Essa “ética da morte de Deus” não valoriza a vida porque, em última análise, não valoriza o Autor da Vida, e não tem nenhum compromisso com categorias absolutas e universais de valoração das ações humanas.

Cabe, neste passo, a pergunta: por que o santo ofício da grande imprensa não condena a atitude ridícula e abjeta do Sr. Schwartsman? Será porque ele veicula pensamentos de esquerda? Ah, então ele tem uma espécie de salvo-conduto midiático para registrar publicamente sua torcida pela morte daqueles de quem discorda? Sim, ele tem, e só quem nasceu ontem pensa que as redações progressistas amam a vida e as liberdades fundamentais.

Nesse sentido, a avaliação moral da torcida pela morte de alguém vai depender de quem é esse “alguém”, e então voltamos para a ética consequencialista do Sr. Schwartsman. Lamentavelmente, a dignidade da pessoa humana deixa de ser um princípio moral absoluto para apenas conferir algum verniz a textos elaborados pelos iluministas das trevas, cegos guiando outros cegos. Gospel Prime.

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