Líder da greve na Bahia Marco Prisco pode ser preso qualquer momento


SALVADOR –
Ameaçado de prisão, o presidente da Associação dos Policiais, Bombeiros
e seus Familiares da Bahia (Aspra), soldado Marco Prisco, está
convocando as famílias dos grevistas, incluindo crianças, para se juntar
aos policiais concentrados desde quarta-feira na Assembleia Legislativa
do estado.

Para distrair os filhos dos soldados, os
organizadores da paralisação instalaram pula-pulas no local. De acordo
com o capitão Marcelo Pita, porta-voz do Comando da Polícia Militar,
Prisco está na lista dos 12 líderes grevistas com mandado de prisão
expedido pela Justiça baiana. Mas o governador Jaques Wagner (PT) já
descartou a possibilidade de invasão da Assembleia. Wagner disse que não
negociará enquanto a greve continuar.
No fim da tarde de sábado, a PM conseguiu
recuperar as 16 viaturas levadas dos quartéis pelos grevistas. O líder
Marco Prisco disse que o movimento está disposto a reduzir a pauta de
reivindicações, mantendo apenas a incorporação de gratificações e a
anistia aos grevistas.

Para chegar ao líder da greve dos
policiais militares baianos, é preciso erguer os braços e passar por uma
minuciosa revista. Protegido por uma roda de amigos e por um colete à
prova de balas que não combina com a camisa de malha e o bermudão que
veste, Marco Prisco Caldas Machado, de 42 anos, é o centro das atenções
no corredor do segundo andar da Assembleia Legislativa da Bahia, local
que foi transformado no Estado-maior do movimento grevista. Prisco está
tenso. Ele sabe que pode ser preso a qualquer momento e levado para um
presídio de segurança máxima fora do estado. Uns dizem que há um plano
para matá-lo.
O ex-bombeiro, demitido na greve de 2001,
é o presidente da Associação de Policiais, Bombeiros e de seus
Familiares do Estado da Bahia (Aspra). Embora a entidade, fundada há
três anos, represente apenas 17% dos policiais e bombeiros baianos, ele é
o nome por trás da paralisação que já dura cinco dias. Seu discurso
oscila. Primeiro diz que os grevistas são ordeiros e que querem
negociar. Nega responsabilidade sobre a onda de saques, violência e
sabotagem que assolou a capital baiana nas últimas horas. Mas, em
seguida, alerta que sua prisão pode desencadear uma desordem fora de
controle. A poucos metros de onde ele fala, 16 viaturas policiais — com
pneus furados e levadas à revelia dos quartéis — formam uma barreira de
proteção.

No banco de dados da Justiça Eleitoral,
Prisco é tucano. Reconhece que assinou uma ficha de filiação ao PSDB,
mas afirma que está de saída do partido. Na política baiana, dividida
entre carlistas (herdeiros de Antônio Carlos Magalhães) e petistas, ele
conseguiu o improvável: ser demitido pelo governo carlista de Cesar
Borges, em 2002, depois da greve do ano anterior, e ter a reintegração
negada pelo atual governo petista de Jacques Wagner. Com a paralisação
iniciada na quarta-feira, é acusado agora de servir aos interesses da
oposição e ao projeto de se lançar candidato à Câmara Municipal.
Para explicar as razões do movimento,
Prisco capricha no verbo. Garante que a pretensão não é salarial, mas a
desmilitarização das polícias militares. Diz que o Código Penal Militar é
o último resíduo do Ato Institucional número 5 (AI-5) e que a população
só respeita a PM por ter medo dele. Prisco também se esforça para
mostrar que a Bahia não está sozinha. Lembra que é o 11 estado
brasileiro a enfrentar uma greve de policiais no último ano.

— A militarização é perversa para a
categoria. No Rio, mandaram o Bope (Batalhão de Operações Especiais)
reprimir a mobilização dos bombeiros. Era irmão atirando em irmão. Eu
estava lá e vi tudo. Muito triste, mas ordem dada é ordem cumprida —
lamenta.
Nas palavras de Prisco: “quem está fazendo a revolução social no Brasil é o militar”.
O dirigente, que usa o prestígio adquirido nos piquetes de 2001 para
correr os estados, envolveu-se recentemente numa confusão, em Rondônia,
onde se apresentou aos movimentos sociais como se fosse um deputado.
Prisco, de fato, tentou uma vaga a deputado estadual pelo Partido
Trabalhista Cristão (PTC) em 2010, mas recebeu uma votação pífia. A
visita a Rondônia acabou rendendo-lhe uma acusação de falsidade
ideológica.

Nascido em Catu, a 40 quilômetros de
Salvador, ele entrou para o Corpo de Bombeiros em 1999. Disse que, desde
jovem, sonhava com a profissão. Quando fala dela, lembra, emocionado,
de um salvamento que fez no tempo em que servia no quartel do Iguatemi.
Uma médica — ele conta — bateu com o carro pouco depois de seu plantão
no hospital. Ficou presa nas ferragens e, como era cirurgiã ortopédica e
estava consciente, recusou terminantemente a ajuda de qualquer PM.
Exigia a presença dos bombeiros, pois temia uma lesão grave na coluna.
Foi Prisco que a resgatou.
Pai de um casal e desempregado desde
2002, Prisco afirma que sobrevive graças à ajuda financeira da mulher,
que é mestre em linguagem dos sinais. O sindicalista diz que chegou a
fazer três semestres de Direito, mas ressalta que teve de abandonar o
curso por não ter dinheiro suficiente para pagá-lo. Ele garante que sua
demissão foi ilegal e que há duas ordens judiciais, além de uma anistia
concedida pelo governo Lula, determinando que o governo baiano
providencie sua imediata reintegração. Sendo assim, enquanto comanda a
nova greve, Prisco enfrenta a seguinte contradição: reivindica para si
direitos garantidos pela mesma Justiça que manda os policiais que ele
lidera voltarem ao trabalho.
Reforço do Exército sai do Rio
Na manhã deste domingo, uma aeronave
decolocou da Base Aérea do Galeão para Salvador com 150 paraquedistas, a
fim de reforçar tropas do Exército no estado. Só da Brigada
Paraquedista, tropa de elite do Exército, já há 300 militares em
Salvador. O objetivo é reforçar o policiamento e apoiar o Comando
Militar do Nordeste. Informações o Globo.

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