“Atmosfera Divina”, primeiro disco gravado pelo cantor evangélico Charles Meira


Capa disco “Atmosfera Divina”

As músicas que foram feitas em parceria com os componentes do grupo C.L.A.R.P.T, Moga Neto, Edelcir Cade e outros, despertaram em mim um desejo de tornar o trabalho conhecido com uma amplitude maior, partindo para fazer uma gravação de um disco. Mesmo sendo incentivado pelos amigos com o comprometimento de ajudar financeiramente, nada idealizado deu certo, ficou somente a vontade.

No ano de 1986, totalmente integrado na Igreja Batista de Jequiezinho, cantava com mais assiduidade nos trabalhos ali realizados.

Pastor Júlio de Santana

A parceria com Edelício era cada vez mais sólida, proporcionando um grande entrosamento e gerando vários frutos em forma de composições.

As amizades foram surgindo dentro da igreja, principalmente com aquelas pessoas ligadas a área musical. Conheci os irmãos Heleno, comerciante no ramo de madeira e Edvando Pereira, cantor evangélico. O primeiro foi o principal incentivador do seu mano na gravação do seu primeiro disco. Em conversa com os mesmos, sempre mostrava o meu desejo de também gravar um vinil. Notadamente um conhecedor e de grande tino musical, o irmão Heleno atestou o meu talento como cantor e se colocou à minha disposição para ajudar no que estivesse relacionado com a gravação. Vontade e talento foram comprovados que eu tinha, as dez composições de minha autoria e Edelício estavam escolhidas, alguém disposto para coordenar também. Faltava agora conseguir os recursos financeiros. Materialmente falando, era a parte mais difícil. Mas Deus providenciarias os meios para solucionar esta etapa.

Gersonete Sampaio

Passados alguns dias as idéias as começaram a surgir. Eu havia comprado um terreno para futuramente construir minha casa, pois morava de aluguel, e um fusquinha para melhorar o nosso lazer. Falei para minha esposa que iria vender os bens para fazer a gravação do disco. Ela não concordou com a ideia. Tive que gastar todos os argumentos explicando o lado positivo de desfazer de um bem material e colocar na obra do Senhor. Mas como as providencias com certeza eram divinas terminou acatando a minha decisão. Como num passo de mágica o terreno e o carro foram vendidos. Comuniquei para Heleno que tinha conseguido o dinheiro e que ele poderia manter os contatos, fazendo sua parte de coordenador. No mesmo dia ele telefonou para a gravadora SOMAX, em Recife, acertando todos os detalhes da gravação. Ficou confirmada a data de 25 a 30 de julho de 1986.

Igreja Batista de Jequiezinho

Próximo da viagem, pedimos ao pastor Júlio para contactar com o diretor do Seminário Batista de Recife, vendo a possibilidade de conseguir nossa hospedagem durante os dias da gravação. O pedido foi feito e o diretor respondeu positivamente. Convidei Edelício para ser companheiro de viagem, mas não foi possível porque estava trabalhando. No seu lugar foi comigo tio Antônio, que estava disponível. Saímos dois dias antes da data marcada. Chegando em Recife, fomos para o seminários, nossa morada naquela semana. No mesmo dia localizamos a SOMAX, onde ficamos conhecendo o diretor da mesma, o qual nos atendeu muito educadamente. Depois de um cafezinho, nos mostrou o estúdio, toda a aparelhagem de som com capacidade para gravação em 8 canais e outras dependências onde seriam realizados os trabalhos. Ficou confirmado o início da gravação para o dia seguinte.

Edelício e Charles Meira

Na volta para o seminário contemplamos as belezas da grande Recife. Nossa morada provisória ficava num local muito bonito, cheio de árvores bem altas, quadra para futebol de salão e vários prédios. No outro dia acordamos cedo, tomamos café e seguimos para a gravadora. No horário marcado chegamos. Os músicos, como sempre chegaram atrasados. Fomos a eles apresentados e aos empregados da SOMAX. O Maestro era jovem, tinha cabelos compridos, uma pessoa simpática. Os outros eram alegres e brincalhões. Somente o baterista era evangélico. Às 10 horas começou a gravação. Logo percebi que todos eram profissionais de qualidade. O maestro, com quem mais conversava, era um músico com grande sensibilidade harmônica e incrível habilidade para tocar e arranjar as músicas. Todas as etapas da gravação foram para mim marcadas de muita emoção. Quando da mixagem da música “Deus Presente”, chorei emocionado pela suavidade e beleza.

Charles Meira

Na sexta-feira terminou a gravação. As passagens já estavam compradas para Salvador, pois não encontramos direto para Jequié. À noite deixamos Recife. Durante a viagem não tirava o olho da mala, onde tinha colocado o tape da gravação, preocupado que alguém pudesse roubá-la. Tio Antônio comentou que tinha gostado do passeio, somente não agradou da comida pernambucana. No sábado á tarde chegamos em Jequié. Mal entramos em casa, todos queriam informações da gravação. De noite reunimos com a família, parentes e amigos para ouvirmos a fita. As opiniões foram diversas, mas sempre elogiando o meu primeiro trabalho como cantor evangélico.

A parte de estúdio estava pronta, agora começava uma nova batalha, que era a fabricação dos discos. Novamente o coordenador Heleno entra em cena para fazer contatos com fábricas em São Paulo especializadas neste ramo. Várias empresas consultadas e as respostas eram sempre negativas. Estavam com pedidos encerrados, as cotas de fabricação estavam esgotadas, não aceitando compras até o final do ano. Heleno tomou várias informações sem sucesso com pessoas do meio fonográfico. Foi quando manteve contato com uma empresa de nome Polidisc, uma distribuidora de discos, instalada na cidade de Recife, que acenou positivo e se propôs entregar os discos no prazo de 60 dias. A fabricação seria feita por Gravações Elétricas em São Paulo, onde a firma tinha contrato de cotas para mandar fabricar os LP’s.

Igreja Batista de Jequiezinho

Sem outra alternativa fechamos o negócio com o senhor Edilson, responsável da empresa nesta área. Enviamos o tape, o material para capa e contra-capa contendo foto tirada por Nildo Cine Foto na Frisuba, na região de Jequié, uma bonita apresentação escrita por Moga Neto, nome das composições e ficha técnica. E também depositamos na conta corrente da Polidisc 50% do dinheiro da prensagem como sinal, ficando o restante para ser pago no momento que os discos estivessem prontos. O dinheiro investido foi conseguido através de uma campanha realizada junto com parentes, amigos e o comércio da nossa cidade.

Grupo musical da Igreja Batista de Jequiezinho

Na data marcada para a entrega da mercadoria, o Sr. Edilson telefonou dizendo qual a fabricação dos discos tinham sido adiada por mais 30 dias. Começou naquele dia uma longa luta com a Polidisc. O não comprimento dos prazos deixou todos nós apreensivos e duvidosos da lisura do negócio feito com a distribuidora. Depois de inúmeros telefonemas cobrando satisfações da mesma e clamores a Deus feitos pelo irmãos da igreja, os discos foram entregues. A espera durou mais de 6 meses. Depois da boa notícia, passamos a organizar o lançamento, que foi marcado para o dia 9 de maio de 1987. Foram enviados convites para as igrejas, anuncio nos jornais e o carro volante percorreu toda a cidade comunicando o evento. A expectativa era grande, principalmente dos evangélicos que esperavam ansiosos por esse dia.

A comunidade compareceu em massa, lotando as dependências da Igreja Batista de Jequiezinho. O pastor iniciou o culto orando e dedicando a Deus todos os louvores daquela noite. Em seguida

Charles Meira

Júlio de Santana, usando da palavra, comentou sobre minha vida e anunciou o lançamento. Cantei as dez músicas num clima de alegria e emoção. No término do culto todos vieram me cumprimentar, parabenizando pela belas composições apresentadas. A aceitação foi ótima para um cantor que era desconhecido pelos evangélico

Edelício e Charles Meira

s. Os convites eram tantos que durante o primeiro ano cantei em todos finais de semana nas igrejas de Jequié e outras cidades o estado da Bahia. Em três meses foram vendidos os 1.000 discos pedidos. O LP Atmosfera Divina vendeu até esta data mais de 4.000 cópias. Para uma produção independente evangélica é uma vendagem considerada muito boa.

O que melhor aconteceu e continua acontecendo até hoje, são as decisões de pessoas aceitando Jesus como Salvador, através das composições deste disco.

*Texto do Livro “Cantar, Cantar, Cantar”, escrito e lançado por Charles Meira no inverno de 1998 em Jequié – BA.

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