‘Eu considero meu marido um preso político’, diz esposa de Cachoeira


Quem é, o que pensa, o que quer Andressa Mendonça? O Fantástico ouviu
a personagem misteriosa de uma história de poder e corrupção. A
história do bicheiro Carlos de Almeida Ramos, mais conhecido como
Carlinhos Cachoeira.

No dia 29 de fevereiro, Carlinhos Cachoeira foi preso. Acusação:
corromper agentes públicos e explorar o jogo ilegal em Goiás e
Brasília.

Cachoeira está no presídio da Papuda, em Brasília. E as
suspeitas agora são maiores: investigações da Polícia Federal revelaram a
proximidade que ele mantinha com políticos para atender aos interesses
do grupo.

A relação do contraventor com o senador Demóstenes Torres foi a
primeira a ser revelada. Em um diálogo gravado pela Polícia Federal,
Demóstenes fala de um projeto de lei que interessava a Cachoeira.

Demóstenes: Vou mandar o texto para você. O que está aprovado lá
é o seguinte: “transforma em crime qualquer jogo que não tenha
autorização”. Então, inclusive te pega.

Cachoeira: Não pega ninguém não, pode mandar brasa aí.

Também foram citados nas investigações os governadores Marconi
Perillo, de Goiás, e Agnelo Queiroz, de Brasília, deputados federais e
empresas, como a construtora Delta, uma das maiores empreiteiras do PAC.
As relações perigosas entre o Congresso e o contraventor são alvo de
uma CPI. Convocado para depor, Cachoeira se calou.

“Quero permanecer calado, sempre”, disse.

“O nosso objetivo principal é identificar quem foram os agentes
públicos, pessoas com prerrogativa de foro, que seu Carlos Cachoeira
cooptou e corrompeu”, afirma o deputado Odair Cunha, relator da CPI.

A defesa já entrou com recursos em quatro tribunais para tirar Carlinhos Cachoeira da cadeia. Tudo em vão.

“Ele está sofrendo uma profunda injustiça, na minha opinião, que
é uma prisão preventiva de 120 dias sem oportunidade de defesa”, avalia
Márcio Thomaz Bastos, advogado de Cachoeira.

A mulher de Cachoeira, Andressa Mendonça, costuma visitar o
marido na cadeia. Ela tem 30 anos, 19 a menos do que ele. Esteve
presente no depoimento de Cachoeira à CPI e em todos os julgamentos de
pedidos de liberdade.

A repórter Sônia Bridi entrevistou Andressa na casa do pai de
Carlinhos Cachoeira, em Anápolis, Goiás. Ela diz que o bicheiro vai
contar tudo o que sabe.

“Ele disse para mim que tem muito o que falar, que ele quer
contribuir. E pediu para falar para o Brasil que ele tem o que dizer”,
diz Andressa.

Repórter

: Esse “tem o que dizer” envolve os políticos que são acusados de ter relacionamento com ele, de ter recebido dinheiro dele?
Andressa
: Talvez. Talvez sim.
Andressa
: Talvez sim.

O pai, a irmã e sobrinhos de Carlinhos Cachoeira acompanharam a entrevista, que foi gravada também por eles.

Repórter

: A gente está conversando com você há oito semanas para fazer essa entrevista. Por que agora você aceitou?

Andressa

: Aceitei porque tivemos uma derrota difícil no Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Me senti assim, injustiçada. Acho que ele é bode expiatório.
Repórter
: Bode expiatório de quê?
Andressa
: Eu considero meu marido um preso político.
Repórter
: Como é que você chega a essa
conclusão de preso político? Ele é acusado de corrupção ativa e passiva,
falsidade ideológica, contrabando, lavagem de dinheiro e exploração de
jogos de azar.
Andressa
: Se ele não fosse um preso político, não teria criado uma CPI com o nome dele.

Repórter: Mas a CPI é para investigar a relação dele com políticos.
Andressa: Eu acredito que a mídia criou um monstro: Carlinhos Cachoeira. O monstro Cachoeira. Meu marido não é um monstro, meu marido é um homem de bem.
Repórter: Não seria então obrigação dele, dever dele, ir à Justiça e dizer o que sabe?
Andressa: Ele vai fazer isso no momento oportuno.

Mas quando será esse momento? Andressa diz apenas que o marido
não tem se sentido bem na cadeia. “Ele anda deprimido. Está tomando
vários medicamentos, está sendo consultado uma vez por semana por um
psiquiatra. Ele não está bem psicologicamente”, afirma.

Como nas outras aparições públicas de Andressa, ela chegou para a
entrevista vestida com luxo, com roupa de uma grife francesa
tradicional e cara. Andressa e Cachoeira começaram um relacionamento
quando ambos eram casados. Ela, com Wilder Morais, suplente de
Demóstenes Torres, o senador que enfrenta processo de cassação no
Congresso por envolvimento no esquema Cachoeira.

Em ligação gravada pela polícia, Andressa e Cachoeira discutem uma viagem em segredo.

Andressa: A gente vai de avião ou de carro?
Carlinhos: Tem que ser táxi aéreo.
Andressa: Amor, pede o Sênica do Cláudio, da Delta.
Carlinhos: Ué, é só pegar.

O Cláudio que emprestaria o avião é Cláudio Abreu, representante
da construtora Delta no Centro-Oeste, que também foi preso na operação
Saint Michel, que investiga tráfico de influência e fraude em licitações
no governo do Distrito Federal.

Outra gravação da polícia revela o casal discutindo onde morariam quando ela saísse da casa do marido.

Cachoeira: E agora você não vai querer a casa que ele vai te dar, não?
Andressa: Não. Quero, não. Eu falei para você lá atrás que eu
não queria. E outra: você falou para mim que não precisava pegar nada
dele.

Então cachoeira propõe que eles se mudem para um apartamento no edifício em Goiânia.

Andressa: Você quer morar aí?
Carlinhos Quero.
Andressa: Não, não quero morar neste
apartamento aí não. Nossa casa vai ser muito melhor que isso daí. A
nossa casa é exclusiva. Qualquer um pode chegar aí e comprar um
apartamento.

Repórter: O que você gosta de comprar, no que você gosta de gastar o seu dinheiro?
Andressa: Eu gosto de comprar coisas que mulherzinha gosta. Nada de especial.
Repórter: Você é muito gastadeira?
Andressa: Não muito.

Não é o que a polícia conclui ouvindo as conversas de Cachoeira
com uma mulher chamada Vilma, uma espécie de contadora dele. Eles falam
sobre o cartão de crédito de Andressa.

Vilma: O da Andressa, o cartão dela, o total que aparece é R$ 62.838,82.
Carlinhos: Eu queria que somasse, junto com esse, esse outro aí. No total, entendeu?

Repórter: Foram gastos feitos em Miami. Isso ocorreu?
Andressa: Pode ter acontecido, sim. Porque eu estava comprando
roupas de cama, algumas coisas para casa. Pode ter acontecido sim.

A essa altura eles já estavam juntos. Foi aí que entrou na
história a casa onde Cachoeira foi preso. A casa pertenceu ao governador
de Goiás, Marconi Perillo, e estava emprestada para Andressa. A Justiça
ainda tenta determinar quem é o atual proprietário do imóvel.

Repórter: Era uma casa para vocês ficarem morando quanto tempo?
Andressa: Uma casa provisória, para a gente ficar três meses no máximo.
Repórter: Foi para essa casa que você fez as compras nos Estados Unidos?
Andressa: Foi.

Na CPI, o encarregado de fazer a decoração da casa declarou que Andressa e Cachoeira gastaram R$ 550 mil em móveis.

Repórter: São 550 mil em uma casa para morar provisoriamente?
Andressa: Eu não sei o valor exato que nós
gastamos, mas gastamos um dinheiro, mobiliei minha casa e obviamente
levei comigo a mobília na mudança.
Repórter: Já saiu da casa?
Andressa: Já saí da casa.

Andressa diz que Cachoeira só opera negócios lícitos: “Meu
marido não é bicheiro. O Carlos que eu conheço é empresário, faz
consultoria para empresas. Trabalhou durante anos, aproximadamente dez
anos, com a loteria do estado de Goiás. Trabalhou no ramo de
medicamentos”.

A CPI pediu a quebra do sigilo fiscal de Cachoeira para investigar suas fontes de renda.

Cachoeira começou a ficar conhecido em 2004, quando veio a
público um vídeo em que ele negocia propina com o então presidente da
Loterj Waldomiro Diniz. No ano seguinte, em um vídeo que teria sido
divulgado pelo próprio Cachoeira, o ex-diretor dos Correios Maurício
Marinho aparece recebendo dinheiro. Era o início do Mensalão. Segundo a
polícia, Cachoeira filmava todos os seus encontros.

Repórter: O que você acha que o motivava a fazer isso?
Andressa: Talvez mostrar a verdade para as pessoas, para o país?
Repórter: A verdade do quê?
Andressa: Não sei. Quem cobra propina, quem achaca empresários, talvez?
Repórter: A polícia diz que essas gravações
estavam sendo usadas para chantagear políticos e funcionários do governo
para que fizessem o que ele queria.
Andressa: Meu marido não é chantagista, ele é um homem bom.

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